Hoje é a data da execução de Tiradentes, principal mártir da 
independência nacional, pelo poder colonial português. Este é sempre um 
momento propício para reflexões sobre a caminhada do País desde então.
Para a Inconfidência Mineira, a influência das ideias provindas da 
independência dos EUA, em 1776, foi decisiva. Os textos dos pais da 
pátria estadunidense e sua Constituição estavam entre os materiais 
subversivos apreendidos junto aos conspiradores. Como a Independência 
brasileira foi conduzida por um próprio filho da monarquia portuguesa, a
 figura de Tiradentes, já no Império, foi edulcorada, podando-se seu 
aspecto revolucionário e tornando-o um mártir quase conformista, cuja 
efígie de Redentor tinha muito das características de Cristo. A 
realidade foi bem diferente, Tiradentes morreu sem renegar suas ideias e
 assumiu pessoalmente a responsabilidade por suas ações em favor de uma 
pátria livre.
A ideia de ruptura sempre foi evitada pelas elites nacionais. Os que 
se recusaram a seguir o figurino pagaram caro a ousadia, como os 
participantes da Revolução de 1817 e da Confederação do Equador, em 
1824, ou os integrantes dos movimentos armados antiditatoriais da década
 de 70, no século passado. A filosofia prevalecente na elite brasileira 
foi a de que, diante de mudanças inevitáveis, dever-se-ia ceder só na 
forma, e quase nada no conteúdo. Assim foi com a Independência (liderada
 por um membro da família real e com o apoio dos donos de terra, sem 
mexer na estrutura social) com a Abolição dos Escravos (sem reforma 
agrária), com a República (um golpe militar, que conservou o poder das 
oligarquias), com as redemocratizações de 1946 e 1988 (sem punições dos 
torturadores e dos responsáveis pela demolição do Estado Democrático de 
Direito).
Na última redemocratização, ao invés de uma Assembleia Nacional 
Constituinte, Exclusiva, Livre e Soberana, uma Assembleia Congressual; 
em lugar de uma Anistia Ampla, Geral e Irrestrita, uma Anistia restrita;
 ao invés de Diretas Já, eleição pelo Congresso. Com isso, o Brasil 
herdou um passivo de meias-medidas que até hoje atravancam o seu 
desenvolvimento social, político e cultural e dão ensejo a crises 
éticas, como a que estamos vivendo.
(O POVO / Editorial)
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