Escrito por: Melina Pockrandt
Um estudo
mais recente, publicado em 2007 pela professora Patrícia Gomes da Costa, mestre
em Meio Ambiente e Sustentabilidade, chegou a resultados similares. A tese de
Patrícia avaliou as principais causas de afastamento dos professores de 5ª a 8ª
séries em Ipatinga (MG), e, para a surpresa da pesquisadora, os problemas
respiratórios também apareceram em segundo lugar. Na pesquisa, as doenças
respiratórias foram responsáveis por 15,98% dos afastamentos, também apenas 3%
a menos do que os transtornos comportamentais. “Imaginei que as doenças do
aparelho respiratório figurariam entre os principais causadores, mas não como o
segundo motivo para afastamentos do ambiente escolar. Esperava que os problemas
circulatórios e osteomusculares viessem antes”, comenta Patrícia.
São
consideradas doenças do sistema respiratório os problemas que acometem os
órgãos desse sistema, como pulmão, faringe, laringe, traqueia, diafragma, nariz
e boca. Entre as mais comuns estão gripe, resfriado, rinite, bronquite, asma e,
até mesmo, tuberculose e pneumonia. Essas ocorrências vêm se repetindo na
atividade docente. Um pesquisa de 2010 sobre a saúde e as condições de trabalho
dos educadores, realizada pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de
São Paulo (Apeoesp), apontou que entre os principais diagnósticos estão: gripe
(35,6% dos entrevistados), resfriado (33,6%), rinite (32,8%) e sinusite
(23,1%). Além disso, 41% dos professores pesquisados disseram sofrer com tosse
frequente e 40% afirmaram ter coceira no nariz como sintoma comum.
O perigo
está no ar
A
pesquisa realizada por Patrícia Gomes com os professores de Ipatinga apontou
que, entre os docentes afastados por problemas respiratórios, 62% foram
diagnosticados com infecções agudas das vias aéreas superiores. São doenças
como otite, sinusite e laringite. “Esse tipo de infecção é bastante comum no
inverno, devido à variação de temperatura e maior concentração de pessoas em
ambientes fechados, e é causada por diferentes agentes infecciosos. Mais de 70%
dos casos são virais”, aponta o otorrinolaringologista Sérgio Maniglia, do
Instituto Paranaense de Otorrinolaringologia, de Curitiba (PR).
O
especialista explica que os vírus causadores dessas infecções são transmitidos
pelo ar e que em cada indivíduo podem gerar uma reação diferente. “É muito
comum que várias pessoas sejam portadoras do vírus e não manifestem nenhuma
doença. Em compensação, em outra pessoa, ele pode causar otite ou ainda
laringite”, comenta. Segundo ele, a diferença está na imunidade de cada um.
“Por isso, uma forma de prevenção é manter a saúde em dia: comer bem, dormir
bem, realizar atividades físicas, etc.”
A
prevenção também é feita com atitudes diárias e simples, como manter os
ambientes arejados e as mãos sempre higienizadas com álcool gel, os mesmos
métodos que previnem a gripe e o resfriado – dois problemas comuns no inverno.
Enquanto a gripe é transmitida pelo vírus influenza, o resfriado pode
ser causado por centenas de diferentes agentes infecciosos, que também podem
causar infecções no ouvido, nariz e garganta. “E as crianças são portadoras de
muitos destes vírus e bactérias”, explica o pneumologista Adalberto Sperb
Rubin, diretor da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.
Rubin
lembra que apesar de a etiqueta social dizer aos pais que a criança doente não
deve ser levada para a escola, isso não acontece. “É comum os alunos irem para
a escola gripados ou resfriados. Assim, podem transmitir a doença para colegas
e professores.” Para prevenir o contágio, ele orienta que os professores
busquem manter boca e nariz distantes do rosto da criança infectada, para
evitar a transmissão direta. “Além disso, é fundamental a higienização
frequente das mãos com álcool gel”, afirma o médico, acrescentando que é importante
que as salas de aula estejam sempre bem ventiladas, com circulação de ar. Se o
frio não permitir, o especialista sugere que as janelas sejam abertas sempre
que as crianças saírem da classe, mantendo assim o ambiente arejado.
Quando o
assunto são as doenças transmissíveis, uma das preocupações dos docentes é a
quantidade de alunos em sala de aula, já que a aglomeração contribui para a
proliferação mais rápida das doenças. Na pesquisa da Apeoesp, 54% dos
professores entrevistados afirmaram dar aula para turmas com mais de 35 alunos.
Dados mais recentes do Ministério da Educação (MEC), de 2010, apontam que a
maior média de alunos por sala de aula é de 27,4, no ensino fundamental, nos
Estados de Alagoas e São Paulo. No ensino médio, a média chega a 38,8 alunos
por sala, também no Estado de Alagoas. “A quantidade de alunos em sala de aula
é um fator de risco para a transmissão de doenças infectocontagiosas,
entretanto, os números não significam nada isoladamente”, salienta o
pneumologista Alberto Sperb Rubin. Ele explica que se o ambiente for amplo,
permitindo uma distância considerável entre as pessoas, a quantidade de alunos
não influencia de forma tão significativa os riscos de contágio.
Asma e
rinite
Doenças
como a asma e a rinite foram a segunda causa de afastamento por problemas
respiratórios entre os professores de Ipatinga, pesquisados por Patrícia.
Segundo a médica alergista Fátima Emerson, da Clínica de Alergia da Policlínica
Geral do Rio de Janeiro (RJ), rinite é uma das alergias respiratórias mais
comuns e muitas vezes não é diagnosticada corretamente. “A rinite alérgica pode
se confundir com resfriados e gripes, pois seus sintomas são semelhantes:
espirros em série, coriza abundante, congestão nasal. Coçam nariz, olhos,
ouvidos e garganta. Mas a rinite é uma doença herdada, ou seja, tem origem
genética”, explica.
O
pneumologista afirma que há muitos pacientes que nascem com a predisposição
para a rinite, mas demoram anos para desenvolver o problema. “O mesmo acontece
com a asma, que é uma doença considerada de grande incidência (7% dos adultos
apresentam o problema). As duas doenças devem ser diagnosticadas o quanto antes
e tratadas, para estarem sob controle”, alerta Rubin. No caso da asma, os
sintomas são notados durante a crise, em que o paciente sente dificuldade de
respirar, falta de ar, sensação de chiado no peito, cansaço e tosse.
Mas se
ambos são problemas de origem genética, qual a relação do diagnóstico com a
sala de aula? Os especialistas explicam que a relação é direta. “Um dos fatores
de controle das doenças é evitar atitudes que promovam crises: [deve-se] manter
distância de pessoas resfriadas, permanecer em ambientes ventilados e evitar
contato com substâncias que promovem irritação nas vias respiratórias, como a
poeira comum e o pó do giz”, enumera Rubin.
Nesse
aspecto, a médica Fátima ressalta que o pó do giz, na maioria das vezes, não é
o responsável por causar alergia respiratória. “O que ele pode fazer é provocar
irritação das vias respiratórias e desencadear ou piorar a asma e a rinite. Por
isso, o ideal é usar quadro branco, mas, se não houver outro jeito, a limpeza
do pó de giz deve ser feita com pano úmido”, orienta.
O
pneumologista também aponta outras atitudes preventivas, como buscar manter
distância do quadro negro na hora de escrever, evitar levar a mão suja de pó de
giz à boca ou ao nariz e acabar com a prática de “bater apagador”, em especial
na sala de aula. “O giz é um fator que pode fazer surgir ou piorar uma crise de
rinite ou asma. Ele até pode causar um problema pulmonar, mas são casos muito
raros em que é necessária uma quantidade muito grande de pó do material.”
Para a
pesquisadora Patrícia, as más condições de saúde do professor são causadas
tanto pelo ambiente inadequado de trabalho como também pela própria atitude do
profissional. “O docente leva uma vida de muito estresse e correria, e pouco
cuida da sua saúde e de sua qualidade de vida”, comenta. Por isso, ela é a
favor de um trabalho educativo com professores e de uma ação mais efetiva dos
empregadores. “Acredito que o trabalho preventivo realizado com os professores
seria de suma importância. Seria fundamental que, ao entrar na carreira de
magistério, o docente passasse por uma avaliação física e mental e tivesse
acompanhamento profissional ao longo de seu trabalho. Por exemplo: controle
médico ocupacional, ginástica laboral, assistência psicossocial, além de
palestras educativas e oficinas visando promover a saúde do professor.”
Na sala
de aula
Desde
1996, Débora Carolina Morais é professora de educação infantil. Em 2004,
mudou-se para os Estados Unidos e, depois de apenas dois meses de atividade
docente, foi diagnosticada com pneumonia. Ficou um ano afastada até se
recuperar completamente. A conclusão médica: problemas respiratórios graves
causados pela falta de ventilação em sala de aula somada à grande quantidade de
agentes infecciosos presentes nos alunos. Apesar de o caso não ter acontecido
enquanto ela ainda lecionava no Brasil, o cenário não é diferente em nosso
País.
Segundo
pesquisa realizada pela Apeoesp, 50,2% dos professores consideram que a
ventilação nas salas de aula não é adequada e 51,1% reclamam da poeira no
ambiente. O pneumologista Rubin explica que esses são dois fatores de risco
para a transmissão de doenças respiratórias infecciosas (como gripes, otite e
laringite) e que também aumentam a chance de crises de rinite e asma. “A falta
de ventilação em sala de aula é um dos principais fatores de risco para a saúde
respiratória do professor. Sem circulação de ar, o ambiente acaba concentrando
maior quantidade de substâncias que promovem crises alérgicas e também de
agentes infecciosos responsáveis por doenças transmissíveis”, explica. Por
isso, as salas de aulas devem ser sempre bem ventiladas. Em época de clima
frio, em que as janelas passam a maior parte do tempo fechada, o pneumologista
orienta: “sempre que as crianças saírem da classe para alguma atividade,
procure abrir as janelas para arejar o ambiente.”
Fonte: http://www.profissaomestre.com.br/index.php/especiais/saude-do-professor/438-problemas-do-sistema-respiratorio-demandam-prevencao
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