
Estudo sobre salários dos professores nas redes públicas aponta o Ceará como o Estado com a quarta pior média salarial para os profissionais.
O professor avisa logo no início da conversa: o sorriso que se vê em sala de aula vai sumir com o assunto da entrevista. Marcos José da Silveira, 26, é professor na Escola de Ensino Fundamental e Médio Visconde do Rio Branco, no Centro, da rede estadual. Apesar de manter o bom humor com os estudantes, precisa fechar a cara e endurecer a voz para falar do que acontece todo final de mês.
``Eu gosto da educação, me realizo em sala de aula. Só não me realizo quando vou ao banco e vejo uma miséria, quando vou pagar as contas, que o mês não fecha, apesar de tanto trabalho``. O desestímulo com o salário pode estar afetando muitos outros educadores das escolas públicas cearenses. O Ceará só fica atrás de Pernambuco, Paraíba, Piauí e Bahia no ranking das piores médias salariais de professores na rede pública da educação básica não-federal.
No entanto, se forem considerados apenas os salários dos professores que já têm diploma ou iniciaram a graduação, a posição do Estado é ainda pior. A média cearense é R$ 1.249, a quarta mais baixa. O Ministério da Educação (MEC) chegou à média dos vencimentos do magistério pelos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Marcos é formado desde 2007 em Letras & Português pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Partiu de Aracoiaba, a 83 quilômetros de Fortaleza, para estudar na Capital. Por aqui, morou na residência universitária e agora precisa manter o próprio apartamento. Difícil. Contratado como professor temporário do Estado, acumula dívidas e até se arrepende de ter escolhido o curso.
Planejamento
Depois de ter ensinado em escola no Bom Jardim, ele assumiu a função de coordenador de área na escola onde trabalha atualmente. Além de lecionar, ele acompanha o planejamento de outros professores. Porém, apesar de já ter dobrado a carga horária desde agosto, não teve o contrato atualizado e ainda é pago com o salário referente à função anterior. Com os descontos, ele continua a receber R$ 536. No passado, também por causa de atrasos atribuídos a burocracia, já ficou até quatro meses esperando para receber pagamento.
A essa altura, o rapaz já deixou currículo em empresa de Publicidade, pensou em sobreviver da correção de monografias e considera fazer uma nova graduação, em Psicologia ou Direito. ``Direito, não para ser advogado, mas para fazer concurso. Mesmo os professores efetivos, a primeira coisa que eles dizem pra gente é: meu filho, saia dessa vida enquanto você pode``.
``Quando a gente considera a média, considera o contexto social, não é de se admirar que o Nordeste esteja com indicadores (salariais) muito rebaixados, como em outras áreas``, analisa a secretária da Educação do Estado, Izolda Cela. Ela ressalta, no entanto, que a média da rede estadual isolada está bem acima da média total do Estado. Os professores que trabalham 40 horas por semana recebem na rede estadual, em média, R$ 2.479,13.
Larissa Lima
larissalima@opovo.com.br
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