Há 10 anos, a cultura nordestina perdia Antônio Gonçalves da Silva, o
Patativa do Assaré. O poeta obteve popularidade a nível nacional,
possuindo diversas premiações, títulos e homenagens (tendo sido nomeado
por cinco vezes Doutor Honoris Causa). No entanto, afirmava nunca ter
buscado a fama, bem como nunca ter tido a intenção de fazer profissão de
seus versos.
Seus poemas eram feitos e guardados na memória, para depois serem
recitados. Daí o impressionante poder de memória de Patativa, capaz de
recitar qualquer um de seus poemas, mesmo após os noventa anos de idade.
Com a saúde abalada por uma queda e a memória começando a faltar,
Patativa dizia que não escrevia mais porque, ao longo de sua vida, ‘já
disse tudo que tinha de dizer’.
Poema O Burro
Vai ele a trote, pelo chão da serra,
Com a vista espantada e penetrante,
E ninguém nota em seu marchar volante,
A estupidez que este animal encerra.
Com a vista espantada e penetrante,
E ninguém nota em seu marchar volante,
A estupidez que este animal encerra.
Muitas vezes, manhoso, ele se emperra,
Sem dar uma passada para diante,
Outras vezes, pinota, revoltante,
E sacode o seu dono sobre a terra.
Sem dar uma passada para diante,
Outras vezes, pinota, revoltante,
E sacode o seu dono sobre a terra.
Mas contudo! Este bruto sem noção,
Que é capaz de fazer uma traição,
A quem quer que lhe venha na defesa,
Que é capaz de fazer uma traição,
A quem quer que lhe venha na defesa,
É mais manso e tem mais inteligência
Do que o sábio que trata de ciência
E não crê no Senhor da Natureza.
Do que o sábio que trata de ciência
E não crê no Senhor da Natureza.
Fonte: Blog do Eliomar de Lima.
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