domingo, 17 de abril de 2011

Igreja e universidade lideram ranking da confiança


Pesquisa exclusiva revela em quais instituições a população de Fortaleza confia e de quais ela desconfia. Matéria fecha comemorações dos 285 anos da Capital.

Como muitas mães em Fortaleza, Maria foi surpreendida com a presença das drogas em sua casa. No primeiro momento, veio o desespero. A convivência com o problema, por alguns anos, deu-se pelo isolamento.

O preconceito diante do problema, que não escolhe crença, cor, sexo ou classe social, fez com que ela se afastasse “de todas as relações sociais, inclusive de familiares, e até mesmo da Igreja”. “Eu pensava que sozinha pudesse resolver esse problema”, admite.


Foi quando um familiar, que também lutava contra a dependência química de um filho, incentivou Maria a entrar em um grupo religioso que ajuda a lidar com o problema.


“Deus, em sua infinita misericórdia, me permitiu conhecer uma instituição que trabalhava a dependência química por meio de uma metodologia chamada de doze passos, que me fez abrir a mente e o coração e perceber que eu não era Deus e que não estava em minhas mãos a solução dos meus problemas, mas sim, Nele”, ressalta Maria.


Ela destaca que encontrou uma nova maneira de viver. “Eu busquei dentro de mim o que havia perdido, ou seja, a minha fé. A partir desse despertar espiritual, pude reaver a minha vida e da minha família”, vibra a mãe de Tiago, o mais velho dos três filhos, hoje com 24 anos e há oito meses afastado das drogas.


“Essa ajuda significou pra mim uma nova forma de ver minha família, minhas amizades e meu trabalho. Eu entendi que, sem Deus na minha vida, não aguentaria essa situação e que eu preciso da Igreja como sustentáculo para minha felicidade”, diz. No caso da mãe e do filho, O POVO optou por preservar os sobrenomes para não identificá-los.


Da mesma forma que a mãe de Tiago, 72,9% da população da Capital diz “confiar muito” na Igreja. Na pesquisa realizada pelo Instituto de Estudos, Pesquisas e Projetos (Iepro), encomendada pelo O POVO, foi a instituição apontada como mais confiável pelo fortalezenses, entre as nove analisadas.


Não foi feita distinção de denominação em relação a uma igreja específica. A pesquisa mostra, assim, um panorama geral sobre a relação da população com as instituições religiosas cristãs.


Os que confiam pouco na Igreja somam 15,6%. Os que não confiam, 9,7%.


Só a universidade conseguiu alcançar nível de confiança parecido. Segundo a pesquisa, 70,2% da população confiam muito nas instituições de ensino superior. Os que confiam pouco somam 14,3% dos entrevistados. Os que não confiam totalizam 9,8% dos entrevistados pelo Iepro.


Na escala de confiança, atrás da Igreja e da universidade, o Exército é o terceiro a ser apontado como entidade em que a população fortalezense confia muito, com 55,2%.


No entanto, mesmo sendo o terceiro colocado, são 15 pontos percentuais que o separam das instituições que despontam na liderança da confiança entre os moradores da Capital.


Na sequência, apareceu a imprensa. Disseram confiar muito nos meios de comunicação jornalísticos 45,3% dos entrevistados. Confiam pouco 27,3%, enquanto 26,3% não confiam.


A pesquisa

A pesquisa foi encomendada pelo O POVO e realizada pelo Iepro, instituto vinculado à Universidade Estadual do Ceará (Uece).

O estudo traçou perfil do comportamento e do pensamento da população de Fortaleza. A maior parte das informações foi publicada na revista O fortalezense, que circulou juntamente com a edição do O POVO, na última quarta-feira, dia em que se comemorou o aniversário de 285 anos de Fortaleza. Hoje, você confere informações inéditas sobre a relação entre a população da cidade e as instituições.


O Iepro ouviu 600 pessoas de 16 anos ou mais, em 40 bairros de Fortaleza. A pesquisa foi realizada no mês de fevereiro e a margem de erro é de quatro pontos percentuais para mais ou para menos. O intervalo de confiança considerado foi de 95%. Isso significa que, a cada 100 pesquisas com a mesma metodologia, 95 terão o resultado dentro da margem de erro.

O quê

ENTENDA A NOTÍCIA

Pesquisa Iepro, encomendada pelo O POVO, traçou exclusivo panorama sobre quem é, como se comporta e também o que pensa o morador de Fortaleza. Hoje, você confere a relação do fortalezense com as instituições.

ENQUETE


O menor percentual de pessoas que disseram confiar em uma instituição foi da Polícia. O POVO foi conferir opiniões de quem precisou e também de quem não precisou até hoje dos serviços da Polícia

Corrupção afeta confiança

“Confio na Polícia em certa parte. Meu pai é militar e sei que, em algumas corporações, tem a questão da corrupção. Mas o atendimento da Polícia geralmente é bom, afora a demora e a estrutura precária. Tem de haver investimento em recursos humanos, melhorar a remuneração, ter capacitação e mais efetivos de policiais para a segurança pública melhorar”.

Alessandro Simões, farmacêutico, 31 anos


Corrompida por pouco

“A Polícia em Fortaleza não é preparada e se corrompe por pouco, principalmente a que fica na rua cuidando das pessoas. Uma vez, uma pessoa estava invadindo a minha casa e eu precisei da chamar a Polícia, que demorou um tempão pra chegar. O que vejo é que a população também é despreparada para receber a Polícia. É uma questão cultural. As pessoas vão criando uma antipatia. E mais: a atuação da Polícia depende da área em que ela está na cidade. Na área nobre é um comportamento. Na periferia é outra história. A relação se dá de acordo com a área”.

Jéssica Santos, trainee de gerente comercial e estudante do curso de Filosofia, 20 anos


O que precisa avançar


“Grande parte dos policiais é direita, é honesta, mas tem um percentual que deixa a desejar, talvez por conta do salário. Eu acho que o governador tem tido atenção com a área da segurança pública, porque ela melhorou dentro de Fortaleza. O Ronda (do Quarteirão) deu uma brecada na violência. O que precisa é melhorar os salários, preparar os policiais, comprar materiais, como armamentos, organização dentro das instituições e na hora de escolher um policial, saber fazer uma boa escolha. Era pra ser feito um trabalho de socialização da Polícia com a população. O trato ainda é muito deficitário, mas o policial fica entre a cruz e a espada, porque a gente não sabe quem é certo ou quem é errado”.

Glauber Rocha, professor, 42 anos

Ranne Almeida
ranne@opovo.com.br

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