quinta-feira, 29 de setembro de 2011

QUE VERGONHA!

Do sociólogo Pedro Albuquerque, no Blogue do Eliomar:

"É condenável, sob qualquer aspecto, a truculência policial. Quando os professores buscaram a Assembléia, disseram ao Estado que eles estavam dando ao seu movimento o tom da civilidade e da legalidade. Não se pode chamar de ocupação o ato dos professores. A casa das leis é a casa do povo e o movimento dos professores representa uma parcela significativa do povo. Escolher a Assembléia para suplicar apoio é um ato legítimo, ainda que extremado do ponto de vista formal, mas profundamente humanizado do ponto de vista político. O Presidente Roberto Cláudio não deveria ter recorrido a polícia como forma de mediar o conflito. Pelo contrário, a mediação deveria ter sido feita diretamente por ele, Roberto Cláudio, com sua sapiência, habilidade e compromisso com a democracia. Ele seria a autoridade mais legítima a realizar mediações junto ao poder executivo que tem se mostrado insensível e arrogante no trato com os professores. É preciso saber de onde partiu a ordem de comando que levou a polícia a praticar aqueles atos insanos para que as providências de ordem disciplinar sejam tomadas. Por mais que os ânimos entre os professores estivessem exaltados, a crueldade usada não se justifica. O problema não é a greve dos professores. O problema basilar é o fato de que as prioridades no Brasil e no Estado do Ceará estão invertidas. Sobram recursos para obras suntuosas como o Centro de Convenções, o Aquário, o Trem Bala do eixo Campinas-Rio de Janeiro, a requalificação da nossa Avenida Beira Mar, as obras da Copa, o pagamento duplo de altos salários a autoridades que exerceram ou exercem cargos públicos, as graciosidades fiscais a grandes grupos econômicos nacionais e estrangeiros, o financiamento a juros subsidiados de empreendimentos de grandes construtoras no exterior, o uso desenfreado de recursos do FAT-Fundo de Amparo ao Trabalhador para financiar uma pletora de projetos ditos sociais esparramados pelo território nacional sem quase nenhum impacto social e de eficácia duvidosa. Para os professores do ensino fundamental e médio e para as escolas onde estudam os filhos da grande maioria da nossa população, especialmente da população trabalhadora, pilastra maior da riqueza nacional, alocam-se parcos recursos, escolas de miséria, salários aviltantes. O mesmo tratamento é dado aos profissionais da saúde que cuidam da grande maioria das famílias brasileiras e aos profissionais da segurança pública que, além de ganharem míseros salários, são obrigados a usar da truculência contra seus irmãos padecedores de injustiça. Essa inversão das prioridades significa que os governos estão tomando como seu ponto de apoio na governabilidade os interesses exclusivos e as paixões egoístas de grupos privilegiados, na ilusão de que o apoio do povo será sempre garantido com políticas de migalhas econômicas e de mero alívio social. Os deputados não podem se deixar conduzir pelos acontecimentos, como se sobre eles não prevalecesse a função protagonista do mandato para o qual foram eleitos. Tampouco podem se comportar diante do que vem ocorrendo como se fossem vítimas e não responsáveis de seu papel. Os detentores de mandato popular não podem, em face de convulsões sociais paridas por sentimentos de injustiça, aceitar a repressão como uma necessidade."

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