segunda-feira, 30 de maio de 2011

A DESVALORIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO


Educador brasileiro é desvalorizado desde o império.


A história nos mostra que o Brasil sempre pagou mal aos seus professores. A primeira Lei Geral do Ensino, decretada por D. Pedro I em 1827, estabelecia que os professores deveriam receber, como salário, 25 mil-réis mensais, o que corresponde, em valores atuais, algo em torno de 930 reais. O professor ganhava, naquela época, um terço do que ganhava um feitor de escravos.

Estamos no século XXI, no ano de 2011, 184 anos se passaram e a professora Amanda Gurgel, do Rio Grande do Norte, continua percebendo salário do início do século 18, ou seja, do tempo do Império.

A referida professora apresentou no Programa “Domingão do Faustão”, da Rede Globo, em 22/05/11, o seu cheque salário no valor de R$ 930,00. Absurdo é que o salário da Amanda é o mesmo que foi pago por D.Pedro I, aos professores, em 1827.

Segundo Regina Simões, professora do Programa de Pós-Graduação em Educação do Centro de Educação da Universidade Federal do Espírito Santo, uma pesquisa realizada resultou no texto “Formas de adoecimento de professores capixabas no século 19: diálogos com o passado no presente”, um dos artigos do livro “Trabalho e Saúde do Professor”(Autêntica, 2008). Seu recorte temporal foi determinado pelo acesso ao primeiro estudo estatístico, que permitia dimensionar o número de alunos e professores existentes na então província do Espírito Santo, de 1878.

Comparamos esse material de pesquisa do século passado com as pesquisas e estudos do século 20, e encontramos o mesmo quadro na educação de ontem e de hoje: prédios improvisados, condições insalubres para o exercício docente, carência de professores, muitos alunos por sala, baixos salários.

Uma carta de 22 de abril de 1838, data em que se comemorava o 338° aniversário do descobrimento do Brasil, serviu como elemento disparador de uma pesquisa que dialoga com a história, para entender os motivos presentes no adoecimento docente e suas relações com o ambiente de trabalho.

Naquela data, o professor José de Araújo Lobo, a quem havia sido consignada em caráter vitalício a cadeira de gramática latina na Vila de São Mateus, a 220 km de Vitória, no Espírito Santo, abriu mão do privilégio. São Mateus era um local estratégico em função de seu porto, onde desembarcaram muitos dos escravos vindos ao Brasil.

Quarenta dias depois de designado para a cadeira, Lobo resolveu abdicar de sua função de professor. A alegação: o cargo de professor é nocivo à minha saúde e prejudicial aos meus interesses particulares.

“Isso mostra que o professor estava buscando se afastar da sala de aula, que seu local de trabalho era um local de risco, a ponto de ele não querer estar lá”, explica Regina Simões.

Para a pesquisadora, o descompasso entre o discurso de exaltação à importância da educação e a precariedade real, criaram essas formas de resistência que perduram até hoje: a do adoecimento e do afastamento.

Hoje, os sujeitos são outros. Mas os nós do tempo persistem.

Duzentos anos se passaram do Império até hoje, porém, entraves que amaram a educação, impedindo que ela seja de qualidade, perduram, persistem até nossos dias.

Precisamos cortar os nós dos baixos salários, dos prédios improvisados, das condições insalubres de trabalho do professor, da carência de professores, do excesso de alunos em sala de aula, da falta de recursos técnico-pedagógicos, do excesso de jornada de trabalho etc.


Fonte: Paulo James Queiroz Martins
Representante da APEOC de Maranguape

Publicado originalmente no Sitio da Apeoc

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