Percentual dos alunos que aprendem o necessário fica entre 10% e 13% desde 1999 e foi de 11% em 2009
De cada 100 alunos matriculados no último ano do ensino médio no Brasil, apenas 11 aprendem o que era esperado para essa fase. A pior situação é a do Maranhão, onde apenas 4,3% atingiram a nota mínima esperada. Já o melhor índice é o do Rio Grande do Sul, mesmo assim com apenas 19,4% do total de estudantes – somadas as redes pública e privada – com conhecimento compatível a concluintes do antigo colegial.
O dado foi apresentado no relatório “De olho nas Metas”, feito anualmente pela Organização Não-Governamental Todos Pela Educação. O grupo acompanha cinco metas que tratam de acesso, alfabetização até os 8 anos de idade, aprendizado adequado à série, conclusão na idade correta e do financiamento e gestão da educação em todo o País. A terceira sugere que “até 2022, 70% ou mais dos alunos terão aprendido o que é adequado para a sua série”. Se a evolução atual for mantida, o Brasil só vai atingi-la em 2050.
Nenhuma série está perto de atingir o padrão estabelecido, mas no 5º e no 9º ano do ensino fundamental houve melhora em comparação ao primeiro dado do Sistema de Educação Básica (Saeb), que é de 1999. Mesmo no ensino médio, quando se trata de língua portuguesa, atualmente 28,9% atingem o desejado para a etapa, enquanto eram 27,6% há 10 anos, mas em matemática eram 11,9%, e hoje são 11%. “Isso significa que 89% das nossas crianças estão concluindo a educação básica sem aprender o mínimo", explica Priscila Cruz, diretora executiva do Todos pela Educação.
O sociólogo e pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), Simon Schwartzman, acha que o dado de matemática é mais revelador do trabalho da escolha do que o de língua portuguesa. Segundo ele, o português está associado à educação familiar. “Se a família fala um pouco melhor, a criança aprende. Matemática depende da escola, o que significa que ela não está ensinando”, diz.
A secretária de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), Maria do Pilar Lacerda Almeida e Silva, admite o atraso no ensino médio e explica a avaliação pela herança histórica. “Não são só 10 anos que se perderam, são 500 anos perdidos. Muitas gerações foram desperdiçadas. O que fazemos hoje para tentar recuperar é o Prouni e a Educação de Jovens e Adultos”, afirma.
Menor investimento por aluno
Também é no ensino médio que está um dos menores investimentos do governo por aluno. Em geral, o Brasil parece caminhar para alcançar a meta número 5 da ONG: “até 2010 o investimento público em educação básica deverá ser de 5% ou mais do PIB”. Mas o investimento maior ainda é em educação superior (R$ 15,4 mil por ano por aluno), depois no ensino fundamental (R$ 3,2 mil) e só então no médio, com exatos R$ 2.317. O único aluno que recebeu investimento um pouco menor é o do ensino infantil, que custou R$ 60 a menos, em 2009, segundo dados do MEC compilados no relatório.
Entre as outras metas, o Brasil chegou perto da número um, que previa 92,7% das pessoas de 4 a 17 anos na escola em 2009 – o índice bateu em 91,9%. A taxa prevista pela ONG é necessária para que até 2022 se chegue a 98% dos alunos em sala de aula. "Não podemos cair na cilada de achar que este número é a universalização. Ainda temos 3,7 milhões fora da escola, algo igual a população do Uruguai", diz a diretora da ONG.
Os pobres continuam pior
O mais perverso é que, destes que estão fora da escola, 85% são da classe mais pobre. "A educação não está fazendo seu papel de criar mobilidade social", acrescenta Priscila.
Algo parecido ocorre na meta número 4, em dados gerais vamos bem, mas a diferença entre resultados de diferentes classes sociais é brutal. No objetivo “até 2022, 95% ou mais dos jovens brasileiros de 16 anos deverão ter completado o ensino fundamental e 90% ou mais dos jovens brasileiros de 19 anos deverão ter completado o ensino médio” o país conseguiu ficar dentro do “intervalo de confiança” - uma espécie de margem de erro – do esperado para 2009. Se formaram no ensino fundamental 63,4% dos adolescentes de até 16 anos (enquanto a meta era 64,5%) e 50,2% das pessoas com 19 anos no ensino médio (mais que a meta de 46,5%).
“É a meta que está melhor no geral. A má notícia é que na comparação entre quem tem menor e maior renda a diferença é de 59,5 pontos percentuais no ensino fundamental (96,8% atingem as metas entre os mais ricos e 37,3% entre os mais pobres) e 76,4 pontos no médio (93,6% contra 17,2%)", diz o presidente executivo do Todos pela Educação, Mozart Neves Ramos.
A ONG propõe ainda “que toda criança de 8 anos esteja alfabetizada”, mas ainda não há diagnósticos que possam verificar em que ponto o País está neste quesito. Para avaliar os alunos, no início do ano letivo de 2011, o Todos pela Educação em parceria com o Ibope e apoio do próprio MEC vai aplicar uma prova para alunos do quarto ano (terceira série antiga) e aos repetentes do terceiro ano (segunda série) que mensure quantos estavam alfabetizados no final deste ano.
Fonte: Cinthia Rodrigues (IG São Paulo).
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